9 de março de 2008

Sobre Daniel Jansen

Eu sempre fico muito feliz de divulgar as conquistas dos colegas aspies neste blog, porém este post tem um tom especial, pois eu conheço esse rapaz, e já tive inclusive o prazer de trocar algumas idéias com ele, então, com a prévia autorização dele e sem muitas delongas:

Daniel Ribeiro Jansen Ferreira defendeu, em 25 de fevereiro último, dissertação de mestrado no Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia (IB), sob a orientação da professora Fosca Pedini Pereira Leite. Intitulada “A fauna de anfípodes associada à Caulerpa racemosa (Forsskal) J. Agardh, 1872 em duas praias do Litoral Norte do Estado de São Paulo”, a dissertação, segundo sua orientadora, é uma valiosa colaboração à área de pesquisa relacionada com a fauna de substratos biológicos, porque identificou cerca de 30 espécies de pequenos crustáceos que vivem em algas marinhas em associação com a alga e o sedimento por ela retido. Essa seria, sem dúvida, mais uma pesquisa que faria parte da excelente estatística da pós-graduação da Unicamp, a não ser pelo fato de que Daniel é autista, portador da síndrome de Asperger, que tem como uma de suas características a grande dificuldade de interação social dos seus portadores.

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Algumas disciplinas, segundo Daniel, foram fundamentais para o seu aprendizado e, também, para reafirmar o seu interesse pela zoologia, particularmente pela biologia marinha. “Comecei a pesquisar a bibliografia, a partir da qual escrevi um projeto e, em 2003, quando concluí minha graduação, participei do processo seletivo para o mestrado em Ecologia. Fui aprovado e, em 2004, iniciei meus trabalhos”, revelou.

Sobre essa sua fase acadêmica, Daniel disse que foi uma experiência nova e desafiadora. No início, segundo ele, parecia uma coisa impossível da qual não daria conta. “Até a questão da triagem do material no início eu tinha muita dificuldade. Mas acabei gradativamente ficando mais acostumado e melhorando minha prática. Aprendi rapidamente a questão da taxonomia, os nomes, e depois de um tempo já conseguia identificá-los”, contou.

Um fator que colaborou decisivamente no seu trabalho de identificação foi a excelente acuidade visual que possui. “Conseguia ver os animais bem pequenos que os outros não conseguiam. Eu me lembro que na época da triagem do Biota eu conseguia ver algumas coisas que, apenas com o aumento da imagem, outras pessoas conseguiam ver. A minha dificuldade está na questão da coordenação motora fina e, dessa maneira, o processo de triagem demorou um tempo maior para ser finalizado”, comentou Daniel.

Para Daniel, o trabalho tem uma importância muito grande uma vez que o conhecimento nessa área, mesmo de taxonomia de gamarídeos, é relativamente limitado. A respeito da questão dos hábitos de vida e também da biologia desses animais, Daniel realizou uma pesquisa bibliográfica relativamente extensa. “Encontrei algumas espécies de anfípodes que não foram encontrados nos últimos trabalhos, especificamente nessa alga estudada. Isso mostra que a fauna existente nela parece ser bem diversa e, com hábitos de vida diferentes. do que a encontrada na alga sargaço que é a mais estudada”, afirmou.

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Leia a matéria completa no site da Unicamp

Eu mesmo, que comecei agora minha graduação, vejo nesta conquista do Daniel uma esperança de conseguir encontrar formas de expressar-me também. Dias atrás eu coloquei aqui uma entrevista com o professor Christopher Gillberg, onde ele fala, entre outras coisas, sobre os seus pacientes aspies:

(...)Os pacientes não se enquadram em nenhum lugar. São pessoas estranhas, originais demais, esquisitas. A linha divisória é saber se a criança consegue lidar com a escola sem sucumbir a pressões do cotidiano. Se ela é capaz de acompanhar as aulas apesar dos sintomas de Asperger, provavelmente terá sucesso no futuro. Muitos se tornam professores universitários, matemáticos, engenheiros, advogados.
Fonte: Revista Época

Para mim o que o Daniel fez, além de demonstrar a sua superação, foi dar um exemplo para todos sobre o que nós aspies somos capazes quanto temos condições de trabalhar com essa "originalidade".

Espero que isto possa ser lido por aspies que estão se sentindo "sem saída", pelos seus pais e por todas as pessoas que subestimam as nossas capacidades.

12 comentários:

Anônimo disse...

Valeu! Mauricio assim que é bacana! abçs ANA

Simone disse...

Olá Maurício! Acho que essa procura por pais aqui no seu blog é em função (como voçê mesmo escreve) em função da falta de material sobre SA e Austismo. Ainda mais quando encontramos um lugar feito com tanto carinho e qualidade! Voçê está de parabéns!

Anônimo disse...

Ana e Simone, obrigado pelos comentários de vocês.

Simone, espero que as informações lhe sejam úteis. Leia, copie e distribua tudo que você quiser tá?

Eu agradeço muito esse feedback de vocês, é importante para eu saber se estou sendo claro por aqui.

PS: o que acharam do Daniel? Quando crescer quero ser como ele :-)

Anônimo disse...

Olá,

achei muito interessante um post que encontrei na Internet sobre Catarina Fere: http://www.cantodeanjo.blogger.com.br/2005_07_01_archive.html Encontrei por acaso, pois, da mesma forma que ela, também pesquiso bastante sobre Síndrome de Asperger - aos 26 anos, descobri-me portadora deste problema.

Por questão de sobrevivência, sem querer já "segui" várias das dicas da Catarina, ou seja, tento agir como uma pessoa "normal" (uso aspas como mero recurso de ironia, porque não acho que pessoas com transtornos possam ser consideradas "anormais").

Uma das coisas que acho mais difícil na SA é que, ao contrário de outras deficiências mais visíveis, as pessoas que têm esse problema são tachadas de esquivas e frias. Também já fui vítima de "bullying" e felizmente sobrevivi. Hoje me dedico a minha maior paixão: Ciência da Computação. Também já concluí o mestrado e sou freqüentemente elogiada pelo meu desempenho profissional.

Felizmente tudo na vida tem um lado positivo e devo reconhecer que a SA pode trazer uma capacidade analítica e de concentração, além de excepcionais habilidades nas áreas de Ciências Exatas.

Lamento pelas pessoas que se entregam à depressão e se suicidam como conseqüência desse problema. Acho que, mais do que nunca, ele pode ser visto principalmente como um desafio - e que desafio - e como superação diária de obstáculos - difícil, mas não impossível...

T+

Anônimo disse...

Olá Anônima. Eu já tinha lido este post mas não sabia aonde, obrigado por ter trazido este link.

Acho que a maioria de nós já quis fazer um esforço para ser mais “normal”, como você bem diz, no meu caso foi antes de saber a Síndrome, acho que se já soubesse não teria me esforçado tanto. Hoje eu tento equacionar melhor isso, acho que existe um meio de se tornar mais sociável sem ter que brigar com a própria personalidade, e é neste meio termo que eu tento me colocar.

As maiores dificuldades que as pessoas tem conosco não são por causa do que somos, mas pelo que elas acham que somos (como você disse), então se conseguirmos demonstar o que somos de uma forma que elas entendam. Seremos sempre pessoas diferentes mas isso não significa ter de viver no isolamento completo.

Eu também fico muito triste quando vejo aspies desanimados consigo mesmo, e esta foi minha maior motivação para criar este blog, eu acredito que os aspies podem ser pessoas excelentes nos seus ramos de atuação, e o seu relato é mais uma confirmação disso.

Agradeço a você pela visita e por compartilhar um pouco da sua história aqui.

Anônimo disse...

Adorei o blog, vou ser frequentadora, thanks pela oportunidade de compartilhar com voces.

Anônimo disse...

A questão é de ser diferente incomoda muito as pessoas. O diferente é vanguardista, é inusitado, é sulreal, ultrapassa fronteiras,... é esse o grande desafio de viver em uma sociedade hipócrita e cheia de esterótipos...

Anônimo disse...

oi... realmente existe pouco material sobre AS, só recentemente soube dos livros e gostei muito deste blog. Meu filho, Bruno, de 11 anos foi diagnosticado aos 8 e acho que temos feito um trabalho legal com ele, eu e minha família. Mas eu tenho uma dúvida: qual o melhor momento para dizer a ele que é portador da SA e explicar-lhe? Obrigada
Cris

Anônimo disse...

Olá,
Gostei de conhecer esse site. Eu tenho um filho de 14 anos que foi diagnosticado como Aspie agora, mas eu confesso que ainda não concordei com o diagnóstico. Meu filho sempre teve problemas de aprendizagem, de prestar atenção nas aulas, tem Déficit de Atenção, dificuldade com esportes e com interação com os colegas. Mas não é que ele se isole - ele só não é muito articulado, fica nervoso e ansioso para conversar porque quer agradar. Tem baixa auto-estima, embora seja muito bonito. Mas quanto a habilidades - a única que ele tem de destaque é de montar vídeos com animação no computador. É muito fraco em Matemática e odeia estudar qualquer matéria porque simplesmente não consegue prestar atenção na aula. A única matéria que João gosta - mas porque tem facilidade, é Inglês. Eu discordo do diagnóstico ainda porque todo Aspie parece ser um geniozinho e ter facilidade para estudar (João não tem). Aspie não entende metáforas, mas é literal na compreensão (João adora trocadilhos e é muito espirituoso e criativo). Aspie não gosta de contato físico (JOão adora). Atualmente ele está com muita depressão e se recusa a ir a escola porque não consegue acompanhar a turma. Toma remédios que não ajudam, está mais agressivo, quandos empre foi dócil. Como vêem, estou perdida. Mas será que devo confiar nesse diagnóstico e seguir em frente?

Anônimo disse...

Meu nome é Thiago de Almeida e eu sou um psicólogo e doutorando do Instituto de Psicologia (Departamento de Psicologia Clínica da USP). O tema do meu doutorado é o conceito do amor para pessoas com a Síndrome de asperger, dentre outras populações e estou procurando por pessoas para minha coleta diagnosticadas com a Síndrome de Asperger. Gostaria de saber se vocês poderiam me ajudar, de alguma forma, e me indicar pessoas do sexo masculino com idade acima de 15 anos Sindrômicos de Asperger para que eu possa contactar. Desde já agradeço imensamente pela atenção de vocês. Meu e-mail pessoal é thalmeida@usp.br Aguardo contato dos possíveis interessados.

Gislene disse...

Olá, Anônimo

Também sou mãe de um menino de 14 anos a pouco diagnosticado Asperger, tb estou perdida e ele tem alguns comportamentos como o do seu filho. Gostaria muito de poder trocar experiências com você, porque já li muito sobre o assunto mas nenhum deles diz como agir em certos momentos.
Entre em contato gislene.mb@terra.com.br, acredito muito que trocar experiências é muito importante para entender e melhor a vidas dessas pessoas maravilhosas. Obrigada

Anônimo disse...

oi sou mae de um menino de 5 anos com diagnostico de s10 ou seje acham quase com certeza que e autismo mas bem leve , apesar de nao falar der dificuldades de cordenaçao se faz entender muito bem, pergunta li que tem um teste feito para diagnosticar autismo como faço ele pois os medicos atualmente nao gostam de dar um diagnostico pela idade dele