31 de janeiro de 2007

Guia de Sobrevivência para Pessoas com Síndrome de Asperger - Introdução

2. Introdução

Desde minhas lembranças mais remotas tive complexos pensamentos e idéias que fizeram com que eu me sentisse alguém único. Quando era uma criança pequena no início na escola primária, utilizei a maior parte de meu tempo fazendo apenas minhas próprias coisas, sem ser muito consciente do restante das pessoas. Meus constantes e intrigantes pensamentos e idéias ficavam trancados em minha mente e não conseguia comunicá-los às outras pessoas.

Quando tinha sete anos de idade recebi o diagnóstico de autismo em uma forma que hoje é conhecida como Síndrome de Asperger. Pouco tempo depois fui transferido para uma escola especial chamada Whitfields, em Walthamstow, Londres, onde durante os 8 anos seguintes recebi ajuda especializada, a maior parte dela vinda de uma mulher alegre e de grande espírito chamada Janny. Logo após meu início nesta escola eu e minha família nos envolvemos em um grupo de apoio à família chamado Kith and Kids, para o qual faço regularmente um trabalho voluntário ou compras, mantendo-o sempre ativo e criativo.

Com quatorze anos fui para uma escola chamada West Lea, em Edmonton, onde finalmente recebi o meu General Certificate of Secundary Education no que fiz bem. O meu reconhecimento como bom candidato para GCSE's foi conquistado principalmente pelo meu professor de francês, o senhor Cole, a quem sou muito grato.

Aos dezessete anos pude começar o último ano do ginásio em Winchmore, onde trabalhei duro no meu Advanced Level, mas isto me transformou em um grande alvo de chacotas e abusos por parte de outros estudantes. Foi também à esta altura que comecei a aprender a cuidar de mim mesmo, e que também percebi que haviam muitas regras não escritas sobre comportamento e conduta que todo mundo sabia, exceto eu.

Fui então aceito pela Universidade de Manchester para cursar um Bacharelado em Bioquímica, o qual já tenho concluído. Entrei para a universidade com a mesma ilusão que tive ao longo da vida, pensar que um novo começo significaria não ter mais de lidar com as chacotas. Minha vida social no primeiro ano foi terrível, morei o ano inteiro em um apartamento com outros sete rapazes, vivendo praticamente isolado.

No segundo ano acabei morando em uma casa em Fallowfield, onde tinha três colegas e dois espaços livres. Acabei lá completamente por acaso. Tornei-me melhor amigo de Nick, que chegou por último e preencheu o espaço extra. Ele era um rebelde, e desde então, ensinou-me muitos dos truques de que eu necessitei nas mundanas, e às vezes hostis, ruas e casas noturnas de Manchester. Entre o segundo e o terceiro ano reservei um lugar, de forma impulsiva, em uma expedição na África Oriental onde, por minha própria conta e risco, passei a maior parte do tempo longe do grupo (que me rejeitou) aprendendo sobre os estilos de vida e os costumes da população local. Nunca antes a minha pobre mãe tinha ficado tão preocupada comigo. No meu último ano tive a sorte de conviver com pessoas que eram extremamente maduras e espirituosas de uma maneira construtiva. Após me graduar fiz uma variedade de trabalhos com crianças com autismo tanto aqui como no estrangeiro. Hoje trabalho como animador infantil e considero que esta foi uma boa escolha.

Agora decidi escrever um livro com uma finalidade, passar a minha experiência de sobrevivente como pessoa com Síndrome de Asperger num mundo em que cada situação é ligeiramente diferente, em benefício de outras pessoas que sofrem da Síndrome de Asperger. Quero estabelecer um conjunto de regras e orientações em um estilo semelhante à um código de conduta, com um formato fixo, evitando confusões desnecessárias. Os itens serão expressos de forma inequívoca, evitando que as pessoas se confundam ou os apliquem fora de contexto.

Provavelmente terei um público de pessoas autistas e não-autistas. Quero salientar que muitos dos pontos podem ser muito óbvios para algumas pessoas, mas são completamente alheios à outras, por isso não os interpretem como se fossem paternalistas ou pedantes.

Eu decidi escrever este livro agora e não mais tarde porque vejo que as idéias e lições de vida estão ainda muito claras em minha mente. Algumas pessoas podem achar este livro um pouco mundano, mas eu acredito que, em um determinado momento a pessoa autista tem que ir para fora, para este odioso mundo, de uma forma independente, logo, a última coisa de que precisam é serem protegidas. Quero munir as pessoas com os truques e os conhecimentos de que necessitam, a fim de defenderem-se, sem impor opiniões ou ser hipócrita. Para escrevê-lo embaseime-me também em benéficos e construtivos comentários que venho recebendo de pais de outras pessoas autistas. Não gostaria que algum companheiro autista seja colocado sob pressão desnecessária para ler este livro. Para começar, colocar este livro em algum lugar do quarto pode ser suficiente para que ele seja visto e desperte um saudável interesse.

Direciono este livro para um única finalidade, que é a de melhorar a qualidade de vida das pessoas e recomendo fortemente que nenhum dos meus leitores autistas venha a se fixar em aplicar este livro o mais depressa possível. Lembrem-se que Roma não foi construída em um dia.

Eu mesmo tenho ainda dificuldades para por em prática todas estas regras, mas certamente o ajudará a tomar consciência delas.

Anterior (Prefácio) <<< >>> Próximo (Obtendo o melhor deste livro)

Voltar para o Índice

Texto original aqui

Traduzido pelo Blog Olhar Aspie

Nenhum comentário: